Estratégias presentes e futuras de promoção da língua portuguesa como veículo de comunicação científica
O Dia Mundial da Língua Portuguesa, celebrado a 5 de maio, serviu de mote para um encontro centrado no espaço lusófono, dedicada ao Espaço da Ciência em Língua Portuguesa e aos constrangimentos, desafios e oportunidades que o circundam.
Face ao domínio do inglês enquanto língua franca da ciência, o português assume-se não só como uma língua de integração e coesão comunitária, mas também com ampla importância no ensino e na divulgação de conhecimento.
Judite Alves, reitora da Universidade de Cabo Verde, afirmou que, apesar dos incentivos, não existe uma promoção correta da língua portuguesa como língua de ciência em Cabo Verde, apontando o caminho para uma base bilingue que facilite a mobilidade académica internacional no espaço lusófono. Esta mobilidade foi igualmente destacada por António Cruz Serra, reitor da Universidade de Lisboa, em particular para a importância dos estudantes dos países lusófonos na instituição. Segundo o próprio, embora a língua inglesa seja relevante para o reconhecimento e mérito científico, as redes de investigação lusófonas são fundamentais a várias escalas, desde a CPLP ao nível local.
Maria Hermínia Cabral, Diretora do Programa Parcerias para o Desenvolvimento da Fundação Calouste Gulbenkian, corrobora da importância de um investimento numa produção bilingue. Dando como exemplo o trabalho desenvolvido pela Fundação com os PALOP e Timor-Leste, revela que, embora a língua portuguesa seja fundamental para o estabelecimento de contatos e mesmo para a formação, nas áreas do conhecimento, a interação em inglês é fundamental para o acesso à produção e divulgação, o que acaba por ajudar no alargamento das oportunidades de financiamento. Porém, considera que o domínio do inglês impõe pontualmente barreiras ao progresso científico nos países de língua portuguesa, precisamente pelo facto das candidaturas a financiamento para investigação serem sempre em inglês. A tradução de documentos e artigos reúne assim grande importância, como espelhado, por exemplo, nos esforços do Centro de Investigação para a Saúde de Angola.
O Instituto Camões, entidade de política externa de Portugal trabalha para reforçar a presença da língua portuguesa no mundo, apresentou três estratégias que se encontra a implementar nas áreas do ensino e investigação. Representado por Rui Vaz, o Diretor de Serviços da Língua revela que o Instituto se encontra a consolidar a rede do ensino do português no estrangeiro, a reforçar a oferta digital de serviços e conteúdos que concorram para a internacionalização da língua portuguesa, como língua de ensino, de comunicação e de ciência, através de iniciativas de formação e certificação, e ainda a apoiar projetos de cooperação bilateral e delegada, envolvendo a língua portuguesa.
O Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, encerrou a sessão dedicada à política científica e promoção do português na comunicação científica, tendo destacado o papel do Centro de Ciência LP na formação avançada de cientistas da CPLP e inerente promoção da ciência feita em Portugal e em português.
A sessão promovida pelo CTROP, moderada por José Vítor Malheiros e onde se somaram perto de uma centena de participantes, terminou com a proposta a criação de uma política comum de utilização do português como língua científica complementar entre todos os países lusófonos, assente em três pilares principais: a criação mundial de prémios e projetos científicos em língua portuguesa, o desenvolvimento de um Sistema Comum de Avaliação e Creditação da produção e publicação científica, e a intensificação dos programas de mobilidade da ciência e da cultura entre os países de língua portuguesa.