Fazer ciência em português: o que pensam os investigadores?

O Dia Mundial da Língua Portuguesa, celebrado a 5 de maio, serviu de mote para um encontro centrado no espaço lusófono, dedicada ao Espaço da Ciência em Língua Portuguesa e aos constrangimentos, desafios e oportunidades que o circundam.

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Segundo as projeções existentes, 500 milhões de pessoas poderem falar português em 2050, o que evidencia a relevância da língua em termos demográficos e geográficos (presente em 4 continentes como língua oficial). Neste âmbito, há que ser complementar com outras línguas, nomeadamente o inglês, criando e desenvolvendo as nossas redes universais e culturais.

Maria Mota, investigadora do Instituto de Medicina Molecular, embora reforçando a importância do inglês enquanto linguagem científica, considera que os investigadores devem ter a capacidade de comunicar o seu trabalho nas duas línguas, sobretudo quando estabelecem comunicação com o público. De Lisboa para Moçambique, Elísio Macamo, da Universidade de Basileia, revelou que nem sempre o português facilita a comunicação. Segundo o próprio, apesar do português ser uma língua oficial no país, apenas 24% da população ser fluente, sendo “uma das principais causas das elevadas taxas de reprovação no ensino básico, pelo simples facto das crianças não compreenderem os professores”. O uso do português não é assim suficiente para corresponder às necessidades de formação e comunicação da população moçambicana.

Com opinião distinta, Cristiane Ottoni, da Universidade Estadual Paulista, levou o debate até ao Brasil e para a falta generalizada de formação científica da população brasileira, provocada pelo reduzido acesso ao ensino superior. Se na atividade científica específica, designadamente nas disciplinas da área das ciências exatas e naturais, o uso do inglês é fundamental e recorrente, para Cristiane, o recurso ao português é essencial para a instrução científica da população no geral, havendo uma necessidade de reforçar a divulgação científica em língua portuguesa.

No âmbito da divulgação de ciência, Margarida Queirós, recorreu ao exemplo da Finisterra - Revista Portuguesa de Geografia, da qual é editora, para destacar a falta de incentivos à publicação em língua portuguesa, a tendência para os investigadores jovens privilegiarem o uso do inglês e também a digitalização, na medida em que a impressão em papel está a entrar cada vez mais em desuso. Com o desenvolvimento da era digital, refere a necessidade de se investir na tecnologia da linguagem, desenvolvendo estratégias como a tradução automática e a análise de texto, uma vez que a língua utilizada na ciência não só está constantemente a mudar, como, apesar do inglês ser a língua maioritariamente utilizada, não é a única.

A pluralidade linguística esteve também em destaque na intervenção de Luís Filipe Barreto, da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, que afirmou que a investigação e a ciência são por natureza multilingues, constituindo o português uma língua de intermediação – envolve a transmissão e incorporação de elementos de outras línguas –, o que reforça o seu relevo internacional. Centrando-se na História e nas restantes Ciências Sociais e Culturais, relembrou que estas nasceram na e da pluralidade linguística, pelo que a investigação contemporânea nestas áreas acarreta sempre o cruzamento de línguas.

As notas finais couberam a João Ima-Panzo, Diretor da Ação Cultural e Língua Portuguesa da CPLP que, tendo em conta a diversidade de cenários apresentada, corroborou o importante papel do ensino na promoção do português como instrumento para o desenvolvimento sustentável das comunidades.

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