ULisboa nos Trópicos: os desafios da saúde global nas regiões tropicais
O caminho a percorrer na construção de uma saúde pública mais robusta nas regiões tropicais (e em todo o mundo) requer um diálogo entre a saúde humana, a saúde animal e a saúde ambiental.
O Colégio Tropical da Universidade de Lisboa estreou a sua nova rubrica ULisboa nos Trópicos, durante a primeira edição do FIC.A - Festival Internacional de Ciência. A rubrica engloba um conjunto de iniciativas que pretendem evidenciar os principais desafios enfrentados nas regiões tropicais e o trabalho desenvolvido no âmbito do CTROP para resolução dos mesmos. Sob o tema “Os desafios da saúde global nas regiões tropicais”, o Colégio apresentou uma mesa-redonda, dedicada à importância da ciência na abordagem integrada aos problemas relacionados com a saúde humana, animal e ambiental.
Ana Ribeiro, Diretora do Colégio Tropical e Investigadora no Instituto Superior de Agronomia, deu início à sessão justificando a responsabilidade da Universidade de Lisboa em criar o CTROP, uma plataforma que no fundo se dedica ao estudo de uma região que “ocupa 40% da superfície terrestre”. Desde o ponto de vista histórico da ligação entre Lisboa e vários países tropicais, de todos os continentes, até à necessidade de existir uma rede dinâmica que alavancasse e solidificasse a interação e diálogo entre investigadores, o Colégio surge numa ótica de aproximação entre o Norte e o Sul globais e de concretização na resolução de desafios reais, como os ambientais e de saúde pública. Afinal, os países tropicais são “extremamente vulneráveis a instabilidades sociais, políticas e económicas”, referiu Ana Ribeiro, e a ciência pode desempenhar um papel determinante para na sua estabilidade.
A investigadora da Faculdade de Ciências, Alice Nunes, evidenciou a degradação generalizada dos ecossistemas tropicais, quer ao nível terrestre, costeiro ou marinho. Como resposta a esta perda de património natural e à debilitação da saúde ambiental, a investigadora destacou o “grande esforço de restauro e recuperação dos ecossistemas dos últimos anos”. Apesar de se tratar de um processo longo e complexo, Alice defendeu que “tem que ser um compromisso que nós assumimos nesta que é a década de restauro de ecossistemas declarada pelas Nações Unidas”.
Numa ponte entre a saúde ambiental e animal, Cláudia Istrate, investigadora da Faculdade de Medicina Veterinária, tomou como exemplo a peste suína africana e o seu impacto para o sucesso do objetivo de erradicação da fome elencado no conjunto de eixos para o desenvolvimento sustentável. Tendo por base a meta de obtenção de uma melhor nutrição e agricultura sustentável, a investigadora alertou que este desígnio “não significa só produzir mais”, mas “também proteger os nossos animais de doenças”. A peste suína africana, embora contagie apenas suínos, acaba por originar dificuldade socioeconómicas e até ambientais, por via da transmissão para populações selvagens de javalis. O investigador da mesma instituição, Virgílio Almeida, destacou o exemplo da tuberculose e da profunda diferença na sua incidência entre a Europa e África para aludir à necessidade de existir uma maior transferência de tecnologia para África, e em particular para os PALOP. “Moçambique e Angola estão no top 20 de países com mais tuberculose”, rematou.
A saúde humana e o papel da ciência e tecnologia no avanço da medicina foram precisamente o foco da participação de Luísa Figueiredo e Miguel Prudêncio, ambos investigadores do Instituto de Medicina Molecular. Luísa Figueiredo, líder de um grupo de investigação dedicado ao estudo da doença do sono, provocada por um parasita, declarou que se trata de uma “uma doença extremamente difícil, e com a tecnologia que temos hoje em dia, impossível de erradicar”. Já Miguel Prudêncio, apresentou a vacina contra a Malária como exemplo de avanço científico com impacto humanitário e destacou a sua aprovação pela Organização Mundial de Saúde como sendo um “evento histórico”. Sendo “a primeira vacina disponível contra uma doença parasitária em seres humanos”, com uma eficácia de 30% é “necessário continuar o trabalho no sentido de se desenvolverem vacinas mais eficazes” que permitam salvar mais vidas.